segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Custos de uma Ajuda

No começo eu pensei: ah, só mais uma dessas flame wars que logo passam. Só que uma dada discussão gerou outra que, na verdade, é bem mais produtiva e, portanto, não vou me ater à bobagem que a gerou. A questão é: A que custo devemos acolher certos apoios?

Sempre que se luta por uma certa causa, tenha ela a abrangência que for, desde ajeitar o poste da rua até defender o casamento entre homossexuais, pensamos em quem poderia nos apoiar, oferecer ajuda, construir a luta conosco. Entretanto, raramente uma ajuda vem despojada de interesses e, com ela, carrega a história de quem ajudou. Tais fatores podem alterar consideravelmente os resultados.

Eu, por exemplo, não ligo muito pra dimensões econômicas. O que me define politicamente são as minhas ideologias sobre a sociedade. Ou seja, tanto faz o sistema econômico adotado, se todos tiverem acesso a serviços básicos de qualidade, garantia de seus direitos e vida digna. Não acredito que isso seja possível dentro de um sistema capitalista, mas me mostrem uma boa saída que atenda às condições acima e tá valendo! Sei que muita gente acharia isso entre absurdo e inaceitável e conversaria com elas tranqüilamente sobre o assunto. Posso ser convencida ou não.

Entretanto, há certas coisas que não têm a mínima coerência interna. Imaginem, por exemplo, a Marcha das Vadias. Agora imaginem se um Netinho ou outro agressor de mulheres famoso oferece uma luta conjunta ou que eu recolha entre as Vadias acusações a pedófilos, estupradores e qualquer outra pessoa que possa ser acusada de um crime contra mulher. Não parece estranho? Eu não deveria suspeitar?

Se eu aceitasse prontamente esse apoio, não deveria ser alvo de críticas? Como assim, eu aceitando ajuda de alguém que sabidamente viola direitos alheios? Deveria eu ir acreditando na boa fé dele? Acho que não, heim.

Acredito que refletir e questionar façam muito bem. Você acredita que os motoristas estejam te vendo e atravessa a rua sem olhar pros lados, porque é obrigação deles te ver? Acho que não, né? Analogamente, não faz sentido aceitar a mão estendida de quem é perfeitamente capaz de te deixar cair depois simplesmente porque tem preconceitos contra você.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Amanda!
Justamente, é estranho quando ignorando um aspecto de uma causa (daí eu me refiro à luta contra o machismo, seja sobre violência contra a mulher seja com homofobia)nos aliamos ou fazemos concessões às pessoas que vivem propagandeando tais preconceitos. É, no mínimo, passível de críticas.
Pra mim, inimigo de inimigo não é, necessariamente, meu amigo.
Beijo.

Amanda disse...

Concordo plenamente, Everson! Mas fico com a sensação de que "fama" em mídias sociais gera alguma alteração profunda nas pessoas. Talvez seja a mudança de posição de "pessoa normal" para "formador de opinião". Mas poucos cultivam o questionamento das próprias ações, infelizmente... =-/

Anônimo disse...

Oi.

Olha, interessante ponto pra pensar. A princípio penso que apoio ruim não deve ser aceito, mas e se esse apoio for necessário a realização do projeto?

Imagina o caso da marcha das vadias. Imagine que pra fazer uma marcha assim você precisa de grana (pra sei lá, bandeiras, carro de som...). Você não tem grana. O Netinho tem... Usa a grana dele e fica sempre de olho. A hora em que ele quiser te dar uma rasteira, dá uma rasteira nele. :)